Religiões: tolerância e concordância

“Porque nada podemos contra a verdade, senão em favor da verdade” (2Co 13.8)

Não há nada de errado com a tolerância, mesmo com a tolerância religiosa. Tolerância, principalmente religiosa, é a palavra do momento. Grandes pensadores, como o historiador Arnold Toynbee por exemplo, disseram que o cristianismo deve abandonar a crença de que é único, para que possa haver maior harmonia entre as religiões.1

Se tolerância quer dizer respeito à crença alheia, concordamos. Não devemos atrapalhar o culto de ninguém. Não podemos depredar os elementos de qualquer religião, nem mesmo agredir a crença alheia, verbal ou fisicamente. Isto é direito constitucional. Se queremos ser respeitados, temos de respeitar. “O que quereis que os homens vos façam, façais vós a eles” (Mt 7.12). Isto é tolerância!

Esta tolerância, todavia, não significa que somos obrigados a concordar com as afirmações e práticas dos outros, ou que não devemos dizer aos outros que discordamos deles (leia: “Temos o direito de julgar as outras religiões?“). As pessoas são livres para crer no que quiserem e nós também. Cremos que nossa obrigação como cristão é dizer-lhes a verdade de Deus. Respeito não significa indefinição.

“Paz, se for possível, mas a verdade acima de tudo”, dizia Martinho Lutero. A verdade não pode ser sacrificada no altar da paz, nem as convicções sobre o altar da tolerância. Concordar com o erro, associando-se a ele, é um assassinato à consciência. Dizer que qualquer coisa é verdade é o mesmo que dizer que coisa nenhuma é verdade. A verdade por si só é excludente (leia: “Verdade ou Mentira?“).

“A fé cristã é uma fé objetiva; deve, portanto, ter um objetivo. O conceito cristão de fé ‘salvadora’ é o conceito de uma fé em que se estabelece num relacionamento com Jesus Cristo (…) Um clichê que se deve rejeitar é: ‘Não importa o que  você crê, desde que tenha convicção disto’”.2

Apologia da apologética

Alguns chegam ao extremo de considerar a apologética uma agressão. Classificam a análise de doutrinas religiosas à luz da Bíblia como um mero “falar mal”. Defendem uma espécie de “viva e deixe viver” cristão. Mas esta atitude não tem nada de cristã e não é bíblica. Não passa de um espírito semiecumênico” moderno de tolerância, uma acomodação perigosa diante do engano e da falsidade. “Livra os que estão destinados à morte e salva os que cambaleiam para a matança” (Pv 24.11).

Se os profetas bíblicos assim pensassem, nada escreveriam, pois suas palavras eram uma verdadeira condenação às religiões ao seu redor. Ou será que as pessoas ignoram que o próprio Jesus mostrou os erros doutrinários dos grupos religiosos de sua época (Mt 22.1-46) e disse que eles erravam por não conhecer as Escrituras e o poder de Deus (Mt 22.29)? Ou será ainda que as pessoas esquecem que uma boa porção das epístolas paulinas faz apologia contra doutrinas erradas (Cl 2.8; Gl 2.1-5)? Ou ainda que João, o discípulo do amor, foi radical contra os falsos ensinos, dizendo que se alguém não ensina a verdadeira doutrina cristã é enganador e anticristo e não deve ser hospedado na casa dos irmãos como se fosse um mensageiro do evangelho (2Jo 7,8)? Sem deixar de mencionar que Pedro falou contra os falsos mestres (2Pe 2) e Judas exortou seus leitores a combaterem pela fé que de uma vez por todas foi dada aos santos (v.3).

Nossa fé precisa ser defendida racionalmente. Não porque a lógica gera a fé, mas porque pode vir a perecer sem ela: “Embora o argumento não crie convicção, a falta dele destrói a fé. O que parece ser provado pode não ser abraçado; mas o que ninguém mostra a habilidade de defender é prontamente abandonado. Argumento racional não cria crença, mas ele mantém um ambiente em que a fé possa florescer.”3

Não defendemos a agressão, o desprezo e o rancor contra os não cristãos. Devemos seguir a verdade em amor (Ef 4.15). Concordamos que não se deve perguntar qual é a religião daquele que está caído no caminho de Jerusalém para Jericó. Devemos apenas ajudá-lo no que for necessário. Mas nossa atitude não revela concordância com suas crenças, não revela aceitação incondicional das doutrinas professadas por ele. Dizer a verdade ao meu próximo também é uma forma de demonstrar-lhe amor.

Julgamos e analisamos doutrinas e não pessoas. O budismo, diante da Bíblia, é uma mentira que precisa ser exposta. O budista é um ser humano que precisa ser amado e, porque precisa ser amado, temos de falar ao budista acerca de seu erro. Quando comparamos as doutrinas budistas à luz do cristianismo, não o fazemos com um sentimento de superioridade, mas com um senso de verdade e de necessidade, buscando evitar que outros tomem a mesma vereda.

A questão mais importante

O historiador Will Durant disse que “onde existem mil crenças, tendemos a nos tornar céticos (incrédulos) em relação a todas elas”.4 Contudo, crer em nenhuma também é uma opção entre as demais. Escolher não crer, também é uma escolha religiosa (leia: “Uma fé chamada ateísmo“).

O homem discute a respeito de tudo em sua vida: sua carreira profissional, seu casamento, suas preferências políticas, esportivas, culturais. Existem debates e análises sobre todas as ciências, sejam elas humanas, exatas ou biológicas. E dentro dessas ciências existem linhas diversas que são discutidas e rediscutidas em seminários, livros e palestras: homeopatia versus alopatia, freudianos versus jungianos, física clássica versus física quântica entre uma infinidade de outros opostos. Na política e na economia, os partidos e correntes multiplicam-se. Cada ramo da ciência tem seus conceitos e procuram defendê-los diante das demais opções.

A religião é aquilo que define o destino eterno do homem. “Rendendo o homem o espírito então onde está?”, pergunta Jó (Jó 14.10). “Morreu acabou”, dirá o materialista ateu. “Vamos renascer em outro corpo”, dirá o reencarnacionista. “Purgatório”, defenderá o católico. “Descansando no seio de Abrãao ou sofrendo no Sheol até a ressurreição”, dirá o evangélico. Mas nem todos estão certos ao mesmo tempo. E embora as opiniões possam ser muitas, a realidade será uma só. E se o homem falhar em sua escolha, será tarde demais: “Há caminhos que para o homem parecem direito, mas no fim são caminhos de morte” (Pv 14.12).

Temos consciência de que o abuso nas atitudes religiosas tem produzido até mesmo guerras. Mas estas não nasceram das convicções religiosas e sim do comportamento errado diante delas. A Bíblia não ensina a agressão nem o silêncio diante do erro, mas nos instrui a “responder (defender no original) com mansidão e temor a qualquer que nos pedir a razão da esperança que há em nós” (1Pe 3.15).


1LEITE, Tácito Gama. Religiões e seitas, CETEO, p.112. 2MCDOWELL, Josh. Evidências que exigem um veredicto, Candeia, p.5. 3Austin Farrerem C. S. Lewis. 4DURANT, Will. História da filosofia, p.30.

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